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Author's Chapter Notes:

Desfecho da estória, agradeço epecialmente Pinobr e Encolhido.Seus comentários me incentivaram a continuar a estória.Novamente, é muito importante pra mim ouvir opniões, me diverti escrevendo essa estoria, mas gostaria de saber se vocês se divertiram lendo.

 

Julie acordou desnorteada, ela não sabia onde estava, e estava amanhecendo. O teto e as paredes eram brancos, ‘brancos até demais’, pensou Julie. Ao tentar se mexer ela sentiu um desconforto no pescoço, e sentiu como se sua cabeça fosse explodir. Tateando, ela se deu conta que a cabeça dela estava enfaixada, “que porra é essa?!”, ela disse baixinho.

Ao olhar pro lado ela viu uma figura conhecida, sua mãe cochilava na poltrona do lado.

“Mãe...”.Não houve resposta, então ela tentou mais alto.

“MÃE...”Dona Carla, então acordou meio assustada, mas logo abriu um sorriso ao ver a filha acordada.

“Mãe, oque houve??Porque que eu estou aqui, e porque tem uma faixa enorme na minha cabeça?”

“O acidente filha, você levou uma porrada e tanto. Os médicos disseram que você não fraturou nada. Mas bateu a cabeça bem forte. Não se assuste com o curativo, eu vi a enfermeira trocar ele, e o machucado foi bem pequeno, a bandagem é só pra segurar o curativo mesmo. Você não deve ficar com nenhuma cicatriz.”

“Acidente...?Que acidente mãe??”

“Você bateu de carro filha.Pelo oque foi relatado um cara bêbado tentou mudar de pista, e quase bateu num carro que estava na sua frente, pra tentar evitar a batida ele freou bruscamente, mas ao que parece você não conseguiu frear a tempo. Parece que minha doidinha foi inocente nessa história toda, o motorista bêbado foi identificado, e vai se responsabilizar pelos danos ao seu carrinho filha.”

“Quando que isso aconteceu mãe??”

“Isso tudo foi ontem, depois da faculdade.”

“Meu deus, eu...em um acidente?!Caramba, eu não lembro de ter batido”

 “É assim mesmo, você levou uma pancada feia na cabeça. Mas falando em faculdade,  você foi bem nas provas?”

“Que provas???”

“Também não lembra delas?!Tudo bem, o doutor disse que isso podia acontecer, sua memória deve ir voltando aos poucos, mas ontem você disse que faria algumas provas importantes.”

“Meu deus, pra mim essas provas eram só semana que vem, acho que foi uma porrada e tanto mesmo.”

Julie recebeu alta no mesmo dia, tirando o pequeno ferimento na cabeça, ela estava completamente normal, mesmo assim os médicos deram a ela uma semana de repouso. Uma semana na qual Dona Carla praticamente não a deixava sair da cama.

“Eu estou bem mãe. ”Foi a frase que Julie mais falou durante a semana.

Julie só tinha que ir na faculdade fazer mais uma prova, e pegar os resultados das outras. Por conta do acidente, o professor marcou com Julie no primeiro dia após o descanso de 7 dias, e Julie estava ansiosa, não pra poder ir faculdade, mas pra poder sair daquela prisão de cuidados.

No dia marcado Julie levantou com um pulo, tomou banho, e começou a se arrumar. Ela escolheu uma saia bem curta, como de costume, e uma blusa fresca. Faltavam apenas os sapatos perfeitos.

***

Logo após discutir com Julie, Mark pode finalmente ver algo além de dedos. Mas oque ele viu foi seu corpo sendo projetado em direção a janela, ele entrou em desespero, achando que Julie ia jogar ele pela janela do carro, mas ela estava fechada. Ele teve pouco tempo de agradecer a deus por terem inventado a janela automotiva, quando viu uma luz começar a aparecer na sua outra metade.

Em frações de segundos ele conseguiu ver o rosto de Julie que ia levantando ele. Em seguida um barulho de pneus cantando, ela olhou pra frente simultaneamente soltando ele no chão do carro. Ele também viu aqueles pezinhos lindos dela, mas que ele havia passado a odiar, fazerem uma dança desesperada, se revezando pra vencer o pedal do freio.

Ele tentou gritar, ‘Eu to debaixo do pedal, me tira daqui’. Mas ela não estava mais tocando ele, e pelo visto até magia tem regras. Ele ouviu o impacto. De uma metade, ele via os pés imóveis de Julie, da outra ele via apenas o porta-luvas por um tempo, mas depois do que pareceu dias, ele viu gente olhando pela janela, e o brilho de sirenes.

Ele viu os pés de Julie serem puxados dali, ele não conseguia ver por quem, ele estava desesperado, preocupado com ela, preocupado com ele. Oque seria dele se qualquer um daqueles estranhos que olhavam pela janela decide-se pega-lo também?!

Ele ouviu a porta ser batida, ele ouviu as sirenes se afastarem. Ele sentiu o carro se movendo novamente, mas ele continuava ao lado dos pedais do carro, e não havia motorista ali. Ele viu o dia clarear, e de repente a porta do carro se abriu. Julie estava bem e tinha vindo busca-lo pra acabar com esse inferno e voltar ele ao normal. Pelo menos foi oque ele pensou.

Dona Carla começou a revirar o carro, pegou a bolsa de Julie, seus cadernos, e seus sapatos.

O impulso natural de Mark foi sentir um alívio por ver um rosto conhecido. Ele naturalmente tentou dizer ‘olá Dona Carla, sou eu, Mark...’ e explicar toda a situação. Aí a verdade atingiu ele como uma faca, Julie era a única que podia ouvi-lo, pra Dona Carla, ele era apenas mais um dos saltos absurdamente altos da filha desmiolada.

Ele a viu carrega-lo através do quarto da garota, o qual ele nunca tinha visto antes. Ela então colocou ele no chão. Ele conseguiu reparar em prateleiras acima dele, logo antes de tudo ficar escuro. Ele ouvia vozes distantes as vezes, ele não conseguia identificar porem de quem eram. Depois de um longo tempo no escuro, oque provavelmente eram meses no calendário dos sapatos, ele finalmente viu um clarão.

Uma claridade quase torturante, pra quem ficou tanto tempo no escuro, com a única exceção de uma sombra, um vulto gigante.

Era a primeira vez que Mark via Julie por esse ângulo, sem ter sua visão tampada por pés. As pernas lindas da garota eram torres, ela era gigante, um monumento angelical. Quase um prédio de 10 andares de pura beleza. Ela era uma deusa, ele pensou por último. E era um alívio de saber que ela estava bem. Ela não estava apenas bem, ela estava ótima.

Ela olhava pra ele sorrindo, que sorriso lindo. Ele já podia esquecer de tudo que ela tinha feito ele passar. Ela finalmente havia voltado pra casa, voltado pra salvar ele dessa prisão. Ela estava feliz, ele podia ver, ela estava feliz porque ia salvar ele.

***

Julie estava radiante de alegria, ‘finalmente vou sair daqui, finalmente um pouco de liberdade novamente. ’Ela olhou pro armário, viu seus sapatos favoritos e sorriu. Ela hesitou um pouco pensando se valia a pena usar sapatos tão bonitos assim pra ir pra faculdade. ’A quem eu estou enganando?!Eu adoro ir bem vestida pra lá, e quem sabe oque vou fazer depois da prova?!’.

Ela pegou o sapatos, colocou eles aos pés da cama e sentou.

***

Mark estava ansioso pra voltar ao normal, mas agora, ao ficar tão feliz de ter viso que Julie estava bem, voltar ao normal não era o bastante. Ele lembrava como havia sido a última conversa deles. Ele tinha sido um babaca com ela. Ele não queria perder a amiga, ele não ia deixar mais nada afastá-los. Se a amizade deles sobrevivesse a isso, nada mais ia atrapalhar.

Mark pensava no que ia falar, em como pedir desculpas, em como explicar como ele estava arrependido das coisas que disse.

Ele então se preparou e ficou aguardando ela reverter a magia e transformá-lo de volta. Ele ia agarrar ela, abraçar ela, pedir desculpas, implorar pra ela perdoar ele.

Então ele viu um dos pés dela se aproximando dele, e tocando seu rosto. Em seguida o outro. Ela havia calçado ele. Ela levantou e a dor, e o esmagamento voltaram com tudo. Não que ele houvesse se acostumado naquele dia, mas todo o tempo que ele ficou no escuro, serviu pra que aquela sensação horrível parecesse não passar de um pesadelo bem antigo.

Oque ela estava fazendo? Por que ela estava fazendo isso com ele? Julie provavelmente ainda estava brava com a discussão. Isso não era justo, ele já havia ficado sabe-se lá quantos dias assim. Não importava, se ela ainda estava com raivinha, ele iria tomar a iniciativa e pedir desculpas a ela. Ele ia chegar pra ela, agora que estavam novamente encostados e dizer ‘Julie, eu sinto muito...’.Isso mesmo, eu devo desculpas a ela antes de mais nada.

“Julie, eu...”

Essas foram respectivamente a nona e a décima palavra que Mark dirigiu à Julie depois do último feitiço. E foram também suas últimas palavras.

 ***

Julie estava pronta. Depois de calçar seus sapatos ela olhou para o espelho para checar se a roupa estava boa, fez umas 3 poses diferentes,  e chegou a conclusão que sim, estava ótima. Ela deu uma última olhadinha nela mesmo e...

“Julie, eu”

Ela olhou pro lado assustada, não havia ninguém. Olhou pela janela, ninguém também. Ela havia batido a cabeça com força a uma semana atrás, talvez fosse normal ouvir vozes, talvez não, mas era melhor não perguntar à sua mãe, ou nada de rua pra Julie hoje. Julie simplesmente aceitou que ouviu coisas e saiu.

Ela chegou na faculdade, e foi logo cumprimentada pelos poucos colegas que ainda não estavam de férias, e que queriam saber como ela estava depois do acidente. Ela procurou por Mark, e ligou pra ele, sem sucesso. Ele provavelmente devia ter entrado de férias nesses dias que ela ficou fora, e não queria ser incomodado. Próximo semestre ela colocaria o papo em dia com ele.

Ela foi então fazer a última prova do semestre. A prova estava bem fácil, provavelmente o professor deve ter tido pena dela, por conta do acidente. Bom, o que importa era passar com ou sem ajuda da pena do professor.

Das provas que ela foi ver o resultado, uma ela foi muito bem, e na outra passou raspando. A terceira, a que Julie considerava a matéria mais difícil, Macroeconomia, ela só saberia o resultado a noite, ou no máximo no dia seguinte de manhã, via e-mail.

Bom, só o que restava agora era comemorar, o fato de ter passado em quase tudo. Julie havia sido convidada por umas amigas, pra um show de rock. E nada melhor pra comemorar do que pular a noite toda ao som de rock.

***

Julie acordou com uma ressaca pesada na casa da sua amiga Jenifer, Ela estava fedendo, e grudenta. Ela estava deitada no chão da sala, com os pés pretos e doendo. Quando um cheiro extremamente azedo atingiu seu nariz, ele vinha do seu lado esquerdo, onde ela viu um dos pés do seu sapato. Nossa, como eles fediam. Ela foi se levantando aos poucos, a cabeça dela rodando, até finalmente ficar em pé.

Jenifer já tinha ido trabalhar. Como era possível alguém ter pique de trabalhar depois daquele show foda?!. Julie nunca tinha pulado tanto na vida. Ela pensou em tomar um banho lá antes de sair da casa da Jenifer mas não tinha trazido roupa, mesmo aquele pé preto não ia piorar muito o estado daquele sapato azedo.

Enquanto ela ainda zonza colocava o sapato, ela viu seus pés e lembrou que tirou os sapatos no meio da noite. Enquanto ela terminava de colocar o segundo sapato, ela se perguntou. ’Porque diabos eu fiquei descalça naquele lugar imundo?’.

Antes de levantar, ela pegou o celular pra ver a hora, e viu a notificação de e-mail. Ela abriu, o e-mail e estava lá a listagem de notas de Macroeconomia.

Julieta Martins: 9,0 – Aprovada.

Ela então levantou e deu um pulo. Caindo de bunda no chão logo depois de ouvir um grande crack vindo de baixo.

“Porra, era por isso que eu estava descalça”. Julie lembrou que no final do show começou a sentir o sapato meio esquisito, e olhando ele de perto, viu rachaduras enormes ao longo de cada salto, e havia tirado pra evitar mais danos. Bom agora era tarde demais.

Mas o que era um simples par de sapatos comparado à passar em Macroeconomia raspando?!Além do mais, Julie já não precisava mandar sapatos consertar a séculos. Ela terminou de arrancar os saltos quebrado, jogou eles numa lixeira, estalou os dedos, e os saltos quebrados eram agora uma sapatilha novinha, bem mais apropriada pra ir andando pra casa com os pés doloridos assim.

 

Epílogo:

Mark foi dado como desaparecido à 4 anos atrás, Julie ficou bem triste ao saber do amigo sumido. Ela inclusive prestou homenagem a ele em sua cerimônia de formatura, ele sempre ajudava ela a estudar para as provas.

Ele é o único que sabe do seu paradeiro atual. Ele já foi quase todos os tipos de saltos , sapatilhas e tênis que se possa imaginar. Desde que começou a morar sozinha, Julie não compra mais sapatos, ela usa apenas o mesmo par, transformando ele de acordo com a necessidade.

Mesmo após 4 anos nessa ‘vida’, Mark ‘chora’ ao amanhecer, e recomeçar o ciclo. Ele não se acostumou ao cheiro, ele não se acostumou ao peso, ele não se acostumou ao gosto.

Todo dia quando calçado ele tenta gritar ’Julie, pelo amor de deus, eu estou aqui’. Mas ao que parece, ela ficou tão brava com ele naquela discussão, que decidiu deixa-lo assim.

Julie atualmente tem emprego fixo, e faz pós-graduação a noite, ficando o dia todo com o mesmo calçado. Pode-se dizer que Mark e Julie são mais próximos do que nunca, ele agora é o companheiro involuntário de quase todas as horas da vida de Julie.

Ela só não sabe disso...

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