- Text Size +
Author's Chapter Notes:

Penúltimo capítulo, ficou um pouquinho maior do que eu esperava.Reforçando a nota do primeiro capítulo, eu espero que vocês gostem, é minha primeira experiencia escrevendo qualquer tipo de estória, qualquer crítica por mais pesada que seja é muito bem vinda, acho muito produtivo saber onde acertei e onde eu podia ter ido melhor.

Finalmente silêncio, ela pensou. Novamente uma pontada de culpa atingiu ela, mas ela não podia se dar ao luxo de ficar tendo discussões mentais com um sapato, por mais que esse sapato fosse o seu amigo Mark. Ela logo voltou sua atenção pra prova e continuou tentando salvar suas notas.

Mark gritou, gritou e gritou mas a única resposta que Julie deu foi voltar a esfregar os dedos na sua cara .A segunda prova da garota se arrastou como se tivesse durado anos. O interior de Mark estava agora consideravelmente húmido. ’Meu deus, como pode alguém suar tanto ficando apenas sentada?!’.O calor dos pés que antes era agradável, agora era incômodo e sufocante. E o gosto...Mark tentava com todas as forças não pensar nele.

“Mark, vou te fazer uma pergunta, e por favor, pra evitarmos discussões, responda apenas oque te perguntei, ou considerarei seriamente te deixar assim por mais um dia....”.

Mark derrepente ouviu ecoar na sua cabeça. Por mais ódio que ele estivesse no momento, era melhor ele guardar tudo pra quando voltasse ao normal, Julie estava 1000 vezes mais confortável com a situação atual deles, do que ele. Ela podia muito bem estar falando sério.

“Você ainda consegue ouvir e enxergar, certo?!”

“Bem...eu consigo ouvir, mas eu não consigo ver muita coisa na prática, minha visão ta dentro dos sapatos, mas porqu...”

 “Ótimo, tudo que eu precisava saber. ”Ela cortou ele, e estalou os dedos, deixando ele mudo novamente.

”Peço desculpas por te deixar assim calado, mas não dá pra eu ficar aguentando você reclamar, pensando nas provas que tenho que fazer, e ainda por cima correr pra lá e pra cá em direção às salas, aguenta firme, isso ta quase acabando.”

Aliviada de saber que ele não podia enxergar nada do lado de fora, ela foi andando em direção ao banheiro, saber que ele podia ouvir, não era exatamente confortável, mas não enxergar já era um grande começo, afinal seria bizarro ela entrar no banheiro descalça, e o banheiro deserto do 9º andar estava muito longe.

Ela entrou no banheiro, levantou o vestido, abaixou a calcinha , e começou a soltar o xixi que estava segurando à horas. Era esquisito saber que o Mark estava ali, na frente...ou melhor, debaixo dela. Mas era ao mesmo tempo meio engraçado que ele não podia ver nada, ela não tinha do que ter vergonha.

Enquanto isso Mark, que não tinha como perguntar mais nada, só podia tentar adivinhar pra onde a garota ia, e oque ela fazia. Ele de repente sentiu o peso nele aliviar, quando Julie sentou . ’Ela já está na prova seguinte.’ .Ele pensou, foi quando ele começou a ouvir um barulho de água, caindo em mais água. Quase como um jato de água caindo numa piscina. Ou como alguém urinan...’AAAAA, ela só pode estar de brincadeira, porra, ela me trouxe pro banheiro com ela?????Isso é muita falta de respeito.’.

Ele mal teve tempo de concluir sua reclamação mental quando foi novamente esmagado contra o chão, e ouviu o barulho da descarga. Inacreditável como a sensação de ser esmagado não era algo que dava pra se acostumar, pelo contrário, Julie parecia cada vez mais pesada.

“Dando passeios no banheiro feminino duas vezes hoje hein Mark?!Seu safadinho. ”Ela brincou, ela não precisava ouvir Mark pra saber que ele estava xingando ela no momento.

“Desculpa por isso tá?   Mas eu estava apertada.”

Ela foi então em direção a terceira prova do dia, para o azar de Mark a terceira prova era em outro prédio. Na universidade de Julie, cada prédio tinha sua especialidade, e mesmo estudantes de Economia, tinham aulas de outros assuntos, em prédios diferentes.

Os Campus era enorme, e alguns prédios conseguiam ser até 4 km distantes, mas o ónibus da universidade passava de 20 em 20 minutos, passando por todos os prédios. Julie olhou o relógio, e falou ”Mark, você não vai gostar disso, mas eu só tenho 4 minutos pra chegar no ponto, ou eu perco o ônibus, então vou ter que andar um pouco rápido”. Ela então começou a andar em passo acelerado para os elevadores do 5º andar.

 ’Porra, que dia pra tudo dar errado.’

Ela pensou quando viu um dos elevadores com a placa de ‘Em manutenção’, e uma fila enorme pro elevador restante.

Ela então saiu correndo escada a abaixo, pulando sempre os últimos 3 degraus. Como Mark queria xinga-la agora. Ele conseguia sentir a temperatura do corpo dela subindo a medida que ela seu corpo ia ficando agitado com a descida rápida.

Ela finalmente parou, agora que ela tinha relaxado, Mark conseguia ver gotas de suor se formando nos poros da pele acima dele, prontinhas pra começar a escorrer em alguns minutos. Isso com certeza não ia ser agradável, ele pensou e logo tentou NÃO pensar mais.

“Ufa, 1 minuto adiantada ainda, eu devia me inscrever pras olimpíadas. ”Ela disse com uma voz bem satisfeita ao chegar no ponto. Eram 13:49, sua prova era as 14:00 à 2,5 Km de distância, e o próximo ônibus só passaria as 14:10.O prédio em que ela estava no momento era o penúltimo ponto do ónibus. Ele passava no ponto do prédio, seguia alguns quilômetros mais à frente, onde havia um prédio administrativo, e depois o retorno. Depois ele passava novamente em frente ao prédio, só que dessa vez do outro lado de uma espécie de avenida bem larga que havia no campus.

13:50, nada do ônibus.

13:51, ela finalmente avista o ônibus....

João, o motorista do ónibus era flamenguista fanático, seu time ia jogar um amistoso as 14:00 daquele dia, próximo do fim do seu turno, e ele não queria perder um segundo do jogo, então no seu ultimo  passeio do dia pelo campus ele tentou ser o mais rápido possível. João e o ónibus haviam passado pelo ponto de Julie fazia 5 minutos.

O ônibus passou em frente à Julie, porem do outro lado da avenida.

“Fudeu, fudeu, fudeu, fudeu...caralho, hoje eu só estou me dando mal, meu deus”.

‘A ta, tadinha de você...sofrendo tanto. ’Mark pensou ironicamente, sabendo quem realmente estava por baixo nessa situação toda. ’Ela vai perder uma prova, grandes coisas, queria ver ela aguentar ser pisada o dia todo.’

“Mas eu me recuso a perder essa prova”. Julie falou em voz alta pra si mesma.Mesmo sem ouvir Mark, isso parecia uma resposta ao pensamento do coitado.

A parte do campus entre um prédio e outro, estava deserta, muita gente já estava de férias, e a quantidade de pessoas na rua diminuía drasticamente depois do ônibus passar. Mas se alguma pessoa olhasse pra Julie agora, ia ver uma moça linda, branquinha e de cabelos escuros(desculpe se estraguei a imagem que você tinha dela), correndo desembestada pelas calçadas do campus.

A cena era digna de um filme de comédia. Uma personagem feminina com roupas adequadas à uma boate, correndo no meio do dia, aparentemente sem razão. Julie tinha uma razão, mas mesmo assim, uma garota toda arrumada correndo quase que como um maratonista, usando saltos daquela altura, era uma coisa engraçada de se ver.

Mark que achava que seu dia não tinha como piorar, foi acordado dos seus pensamentos sobre Julie perder a prova, por uma das porradas mais forte do dia, não se comparava ao pulo que a garota dava na escada. Mas entre o andar normal, e o pulo, essa porrada estava na metade da escala.

Quando se preparava pra inutilmente reclamar com ela, a segunda porrada veio numa fração de segundos, na outra metade do seu novo corpo. E a terceira. E a quarta. Quando ele finalmente se recuperou dá súbita mudança de ritmo, ele se deu conta que ela estava correndo. Não apenas no sentido figurado, andando rápido. Mas correndo como se estivesse de tênis e shorts na esteira da academia. Ele agora imaginava um martelo de carne gigante batendo na cara dele de novo e de novo. E o pior era que o martelo estava ficando cada vez mais húmido. Ele já sentia seu interior completamente molhado, sua cara dolorida, e as marteladas continuavam.

Correr com saltos não era fácil, mas Julie estava indo surpreendentemente bem, anos de prática andando de saltos altíssimos o dia todo, e a prática de ficar em cima deles até mesmo bêbada conferiu a ela esses quase que super-poderes. Ela chutou umas 3 ou 4 pedras pelo caminho, Mark que era dramático ia reclamar depois, mas ela sabia que isso não doía.

Onze minutos de corrida na calçada, e mais 3 minutos de subida extremamente acelerada pelas escadas, e ela finalmente estava em sala, e apenas 5 minutos atrasada. Ela pegou a prova, e sentou.

Foi quando o corpo da moça relaxou que ela começou a realmente suar. Mas nesse momento ela já estava concentrada na prova, e o ar condicionado da sala, rapidamente resfriou o corpo dela, e secou o suor. Bem, havia uma parte abafada, onde o ar condicionado não fazia muito efeito...

Mark viu com desespero todo o processo que levou de uma humidade desagradável, à um completo enxarcamento, a mesma propriedade do material que evitava que a água de chuva e poça entrasse, deixando que os pés da usuária ficassem secos, também represava o suor lá dentro. Oque não seria um problema, se o sapato fosse usado por pouco tempo, afinal de contas que tipo de pessoa louca ficaria um dia inteiro em cima daquilo?!Ou também se o sapato não estivesse vivo.

Infelizmente para Mark, ele ERA um sapato vivo, e sua usuária ERA louca. Os pés inquietos de Julie, agora aderiam à cara de Mark, e faziam barulhos extremamente altos e incômodos à qualquer movimento que ela desse. Altos e incômodos apenas para Mark, de resto, eles eram imperceptíveis á qualquer pessoa, Julie inclusive.

E o calor agora era de matar, o corpo dela parecia ainda mais quente agora que ela estava parada. Mark tentou implorar pra ela tirar ele um pouco, pra aliviar a situação, mas o feitiço que o silenciava ainda estava ativo.

Não demorou até que a inquietude de Julie entrasse em ação novamente, enquanto que os dedos do pé esquerdo flexionavam e se estendiam, arranhando a cara de Mark com a unha, o pé direito, firmado no salto mexia apenas a parte da frente para cima e para baixo, arrastando na parede. Ao mesmo tempo que essa arrastada era inconsciente por parte de Julie, isso acalmava ela.

Depois de 2 horas se afogando numa banheira de suor, Mark sentiu Julie levantar para entregar a prova. Ele se sentia um merda agora, sentia seu corpo todo dolorido, e arranhado. Ele passou o dia todo praticamente lambendo os pés de sua ex-amiga, por que depois disso, ele não iria querer nem olhar na cara de Julie. Ele se sentia a porra de um simples sapato, não podia se mexer, nem falar, e ainda estava cheirando à chulé. Nossa, como ele sentia saudades do hidratante com aroma morango.

Ainda em silêncio, ele sentiu ela andando, e ao que parecia, estar entrando no ônibus, já que o chão balançava bastante.

 O único estacionamento da Universidade ficava próximo ao prédio A, então não fazia sentido se locomover pelo seu interior de carro, era lá que o carrinho velho de Julie se encontrava.

Mark de repente sentiu uma pisada mais forte, e subitamente o chão era firme novamente, ao que parecia ela havia descido do ônibus, e estava à caminho da última prova. De repente ele ouviu o barulho de porta de carro abrindo e em seguida batendo. ‘Oque diabos ela ta fazendo no carro?!’ Ele pensou.

“Bom Mark, tenho uma surpresa pra você...”Ela começou.”...Um dos meus professores está doente e cancelou a última prova, parece que enfim o meu azar acabou por hoje. Estamos indo pra minha casa, e você jaja vai voltar ao normal”

Ela esperou um pouco, e quando não ouviu resposta, disse, “Ai meu deus, esqueci que você ta mudo.” .Ela então estalou os dedos, e permitiu a Mark falar novamente.

“Então, feliz com as novidades??”

Ela disse com o carro já ligado, saindo do estacionamento.

“Feliz???VOCÊ só pode estar brincando comigo sua maluca, você me deixou o dia todo na porra do seu pé, lambendo suor, sendo esmagado, e você pergunta se eu estou feliz???E não vou esperar você chegar em casa, me transforma de volta AGORA”

“Deixa de ser grosso Mark, você concordou com o plano, e o resto não foi culpa minha...O estacionamento está movimentado, alguém podia te ver, e além do mais, depois de ser um babaca o dia todo, acho que você tem que ter o mínimo de cavalheirismo, e não me deixar descalça até chegar em casa. Você VAI ser transformado só na minha casa, lá você toma um banho e te faço um jantar, isso não está aberto à discussões.”

“Não foi oque??Não foi culpa sua??Aaaaa claro, a menininha mimada não podia ficar um diazinho andando descalça...NÃÃÃÃÃO...pra que se ela tinha um otario pra ficar pisando em cima. Pra pular, pra quase matar do coração. E ainda por cima não consegue dirigir descalça?!A Julie, já deu de aturar os seus caprichos.”

“Para Mark, você sabe que não foi assim, como que vou ficar na faculdade descalça???Fazendo prova???Iam no mínimo achar que eu sou uma maluca.”

“HÁ...HA...HA, eu tenho uma novidade pra você Julie, todo mundo já te acha uma maluca. E o único que não te achava, agora está no topo da lista dos que te acham completamente louca.”

Julie apesar de linda, sempre se sentiu meio deslocada, por ter gostos um pouco alternativos, e ter um jeito agitado, ela no fundo se sentia meio anormal, e apesar de ser divertido ter esses poderes, isso acentuava a sensação de ser diferente.

Julie não era nem de longe o tipo de menininha sensível, mas ouvir aquilo de um amigo a magoou profundamente.Com os olhos já húmidos, ela disse.

“Eu realmente sinto muito Mark, pelo que te fiz passar, mas não é motivo pra ser um completo babaca como você está sendo agora. Esse vai ser o último feitiço que uso em você antes de te fazer voltar ao normal...”. Ela disse estalando os dedos.

“Você agora tem direito à mais 10 palavras pra me pedir desculpas antes de ficar novamente mudo até eu decidir o contrário. Espero do fundo do meu coração que você as aproveite, e me convença.”

“VAI SE FODER, você e a sua magia.”

“É isso então Mark?!Ok, acho que depois que você ficar normal, não precisa nem me dar ‘oi’ novamente. É tirar você fora que você tanto quer???Então tá bom...”

Julie disse usando uma das mãos pra tirar o lado direito de Mark, e jogá-lo com raiva na janela fechada do carona, onde ele quicou e caiu no banco. O segundo lado de Mark foi mais difícil de tirar, ela olhou pra baixo pra soltar ele, e demorou alguns segundos para solta-lo.

Quando ela ouviu uma freada brusca, ela soltou o sapato no chão do carro e olhou pra frente novamente. Mais dois segundos e talvez fosse tarde demais pra ela pisar no freio. Ela conseguiu pisar a tempo.

Ou pelo menos seria a tempo, se a metade de Mark não tivesse ficado preso debaixo do pedal do freio. Julie pisou desesperada e repetidamente no pedal do freio, sem efeito, e...

                                           ...CRASH...

Chapter End Notes:

O capítulo de conclusão, o próximo, deve ser bem curto, e deve chegar amanhã.

You must login (register) to review.