- Text Size +
Author's Chapter Notes:

Então, esse capítulo demorou um pouco... Eu esperava ter terminado o "arco da Flávia" ainda nele, mas o texto acabou ficando longo e o desfecho continuou distante. Então provavelmente o fim dessa primeira noite ainda vai demorar um pouquinho mais. Enquanto isso aproveitem e não deixem de comentar suas impressões sobre esse capítulo. 😉

Disclaimer: All publicly recognizable characters, settings, etc. are the property of their respective owners. The original characters and plot are the property of the author. The author is in no way associated with the owners, creators, or producers of any media franchise. No copyright infringement is intended.


Enquanto desventurava-se Atta com os inclementes flagelos impostos por Flávia, sua companheira, Lonomia, terminava de adentrar a casa. Ocorreu que com o auxílio do guincho ela alcançou uma das duas janelas que se justapunham a porta de entrada do sobrado. Uma vez em seu peitoril, Lonomia só precisou abrir um buraco pelo vidro valendo-se da não tão potente porém constante rajada de seu fuzil. Com isso o vidro cedeu e logo a menina pôde repetir o processo na veneziana de madeira, e após uma laboriosa descarga de chumbo um orifício minúsculo foi projetado na folha da janela.


Lonomia então entrou por esse buraco, o qual era pequeno o suficiente para passar despercebido para aqueles que o vissem de longe, mas amplo o bastante para que o corpo atlético porém minúsculo da ruiva adentrasse confortavelmente. Uma vez na parte interna da travessa inferior, a menina deparou-se com uma cortina convenientemente posicionada para facilitar sua descida até o chão, todavia Lonomia não trouxera o guincho para usá-lo apenas uma vez. Ela prendeu seu gancho numa cavidade do peitoril da janela e decidiu deslizar por ele quão longe pudesse até o piso, mesmo porque seria assim mais rápido.


Com a altura de 1,10m o peitoril era maior que o cabo pelo qual descia Lonomia, contudo a menina pôde improvisar quando afinal alcançou o limite do guincho, bastou agarrar a cortina e então puxar seu gancho para depois descer rapidamente até o piso azulejado. Ao sair de trás do tecido vermelho Lonomia se deparou com um interior tão aberto que chegava a ser desconfortável. O teto parecia ser um céu branco e opaco, com uma imensa montanha de metal espiralada que levaria até um buraco onde por certo começava o andar superior. Um portal imenso levava até a cozinha, cuja luz estava acesa. O lugar em que a garotinha se encontrava só poderia ser a sala, e isso se confirmou para a pequenina quando ela viu bem no meio desse estranho ecossistema um relevo macio no qual repousava a forma orgânica e massiva de uma mulher adulta encarando a única fonte de luz do lugar; uma antiga televisão de tubo.


Vera estava sentada no sofá, bem a baixo da escada. Ela estava assistindo novela enquanto lixava as unhas da mão e deixava seus pés relaxarem numa bacia de água morna, preparando-os para o pedicure. Ela parecia estar entretida o suficiente para que Lonomia julgasse que não viria a ser um obstáculo, entretanto a jovem militar não podia baixar a guarda. Ela caminhou discreta porém velozmente até a mesa de centro, escondendo-se em baixo dela. A falta de detalhes sobre a sequestradora de Atta e Padius dificultaria a busca. Lonomia lembrou-se que a amiga disse tratar-se de uma moça, então deduziu que não poderia ser a giganta a sua frente quem a mantinha em cativeiro. Isso significava que a menininha teria de deslocar-se pela imensidão da casa em busca de detalhes, o que afinal ela percebeu que seria trabalhoso. Até onde sabia Atta poderia estar em qualquer lugar, até mesmo na cozinha. 


**Droga!**, bradou a pequena ruiva, **se pelo menos eu soubesse quantos gigantes moram aqui!** , foi neste instante que providencialmente o rádio de Lonomia em seu bornal tocou, a garota considerou ignorá-lo, pois era uma distração, mas acabou sedendo depois que ouviu a voz de Persgu falando algo útil, **soldado Lonomia! Na escuta? É sobre o paradeiro da Atta, responda! **, ela suspirou e pegou o dispositivo, então falando, **câmbio! **, **tenho informações para você, querida! É sobre os residentes dessa casa. Tem um homem, uma mulher, uma criança e uma moça... Não foi o homem... Provavelmente nem a mulher dele. A moça deve estar no quarto, fica no andar de cima, a direita, não tem como errar.**, tão logo Lonomia ouviu essas informações ela arregalou os olhos e terrivelmente afoita indagou, **qual é sargento! Como de repente tu tem essas informações? Tá de sacanagem?**, Persgu suspirou pelo rádio e disse da forma mais calma possível, **querida... Eu não posso te dar os detalhes, vamos apenas dizer que você vai achar sua amiga e tudo vai ficar bem... Só me faça um favor...**, Lonomia estava chateada, como Persgu tinha essas informações e só revelou agora? Seriam mesmo elas verídicas? Ou Persgu só estava se vingando por ela tê-lo desrespeitado antes? Em todo caso a garota decidiu confiar nele e perguntar qual seria o favor, ao que o praça respondeu, **não deixe o homem te ver, nem você nem os outros dois**, Lonomia concordou, então disse a Persgu que começaria a subir a escada e a transmissão terminou, todavia tão logo a ruiva deixou a cobertura da mesa de centro seu primeiro pensamento foi, **eu vou dar uma palavrinha com esse homem!**.


Ao sair de baixo do móvel a mocinha rastejou rapidamente até a imensa estrutura avermelhada, não seria fácil subir cada degrau, tão pouco escalar a coluna de metal maciço e polido. A única solução encontrada foi valer-se de seu gancho, atirando-o por cima dos enormes degraus, entre o piso e o balaústre, para escalá-los um a um tão rápido quanto possível em sua estatura reduzida. O progresso seria lento, ainda assim constante, e em meio a sua labuta Lonomia questionava-se aflita que tipos de tribulações enfrentava sua tão querida companheira. 







Depois de ter enserido a indefesa Atta em sua calcinha, Flávia riu sozinha deliciando-se com a ideia de ter uma pessoa inteira presa em sua bunda. Ela sentiu frequentes movimentos entre seus dois colossais glúteos, o que mostrava que a menina ainda estava viva e se debatendo desesperada para sair de seu novo e mortal cativeiro. A jovem então disse, **,bom, como eu prometi, vou te dar algo que os meninos adoram!**, ela piscou zombateiramente, pois imaginava que em seu cárcere Atta era incapaz de ouvi-la. Então a moça caminhou até seu celular, comprimindo sua prisioneira a cada passo, e ao pegar o dispositivo ela pôs os fones de ouvido, inciou uma playlist e começou a sua verdadeira tortura.


Flávia começou a rebolar em seu quarto, embalada pelo funk carioca a mulata começou a despudoradamente mexer seus quadris num ritmo tão frenético e violento quanto uma brasileira poderia fazer. A cada empinada em sua bunda, a cada vibração em suas coxas, a cada movimento sensual o minúsculo corpinho da adolescente sentia que iria estilhaçar em incontáveis fragmentos. A pressão na calcinha de Flávia se tornou tão forte e turbulenta que Atta sentiu como se tivesse sido tragada por um furacão ou mesmo um maremoto. Era praticamente impossível respirar, o calor intenso ameaçava cozinhar sua pele viva e suas juntas já nem eram sensíveis. Atta desejou ter morrido apenas para a dor finalmente terminar.


Com as mãos espalmadas na coxa Flávia abaixava, levantava, voltava para baixo e abria as pernas sorrindo em puro êxtase, absolutamente alheia a vida que se contorcia entre suas paredes de gordura. E se Atta já quase sufocara antes pela fumaça do cigarro, agora o que poluia o pouco ar que chegava a seus pulmões era o cheiro fétido oriundo das profundezas retais da giganta. Um lugar escuro e pavoroso que seria assustador ainda que a moça estivesse parada, mas nesse ritmo frenético interminável o que seria apenas um pesadelo se tornou uma inevitável realidade infernal. Em meio aos movimentos repetitivos do quadril e nádegas de Flávia, a minúscula militar chegou a ter suas pernas tragadas pelo ânus da mulata apenas para ser arremessada de lá de novo e de novo. Parecia que o tormento não encontraria seu fim.


Quantos minutos teriam transcorrido-se? Quantas músicas teriam sido escutadas enquanto a dança sensual de Flávia era executada? Quantas vezes Atta quase foi esmagada? Seja entre as massivas massas marrons, seja entre a fenda ilíaca e o jeans grosseiro da moça, ou seja entre a imensa bunda mulata e o assoalho que quase foi tocado diversas vezes enquanto a giganta rebolava até o chão? Ao passar por um suplício tão desgastante física e mentalmente, foi impossível para Atta resistir sem perder sua consciência. Além de uma dose extremamente letal de seu vigor.


Quando terminou finalmente a playlist de Flávia, o calor de sua ação havia levado ela a dançar no chão, na posição de engatinhar. Afinal ela parou de movimentar as ancas e pôs fim ao que pareceu uma eternidade para a vítima. A moça suspirou repetidas vezes, afinal está dança agitada também havia a cansado. Flávia podia sentir ainda com os dedos a diminuta forma de sua prisioneira projetada contra seu shorts. Isso no mínimo significava que seu corpúsculo não foi estraçalhado pelos movimentos impiedosos da giganta. Mas ela duvidou que Atta ainda estivesse respirando, apesar de que, nunca foi a intenção de Flávia matá-la efetivamente.


Então a mulata ergueu-se apoiada na cama e finalmente pôs-se de pé. Ela levou vagarosamente ambas as mãos até os shorts e despiu-se da peça de roupa, deixando-a cair sobre o assoalho. Então com a mão esquerda Flávia esticou a calcinha enquanto pinçava sua indiscutível escrava do calabouço. Ao pegá-la a morena agiu com mais delicadeza do que em qualquer outra interação que até então tivera com Atta, mas este aparente zelo logo terminaria. Ao perceber que o reduzido organismo da menina ainda demostrava-se vivo, Flávia considerou se deveria deixá-la descansar ou se poderia assolá-la um pouquinho mais. Eis que a jovem deliberou despertá-la.


Mesmo sem o shorts a moça dirigiu-se até o banheiro, o qual ficava convenientemente no piso superior, logo a frente de seu quarto. Ao entrar no banheiro ela fechou a porta e abriu a torneira descarregando uma violenta torrente de água fria sobre o corpo inerte de Atta. A ação ou a despertaria ou terminaria de sufocá-la. Flávia deixou a menina sob a descarga líquida por demorados 8 segundos, os quais serviram para o propósito inicial, Atta foi removida da água estando viva e acordada. Ela tossia, agora bem mais fraco do que nunca, mas o fato de tremer e ter seus microscópicos olhos abertos significava que ela de fato respirava. Flávia sorriu e decidiu voltar para o quarto com sua prisioneira na mão, levemente fechada.


Entretanto ao abrir a porta do banheiro Flávia quase gritou com o susto levado, seu pai, Solano, estava saindo do quarto e encontrou-a de calcinha na porta do banheiro. Ele encarou a filha com curiosidade, mas Flávia esforçou-se para esconder seu nervosismo - bem como também fechar mais ainda a mão onde Atta estava e abaixá-la - para dissipar a atenção do progenitor. A jovem sorriu e com a expressão mais inocente que seu semblante poderia traçar perguntou: **que foi, pai?**, ao que o homem respondeu apenas, **você tá sem roupa...**, ela então brincou enrolando a barra de seu cropped no dedo da mão livre. **claro! Porque minha pele é amarela, né!**, Solano riu e se aproximou da filha, absolutamente inconsciente da existência de uma pequena passageira na mão dela, ele pôs sua mão forte sobre a cabeça da moça e acariciou com ternura enquanto olhava para a filha "meiga" que tinha, por fim ele falou, **eu vou sair, se sua irmã acordar ajude sua mãe com ela.**. Flávia sorriu, abraçou o pai - tomando cuidado para não machucar involuntariamente seu brinquedinho - e após beijar a bochecha dele concluiu, **, tá bem, pai! Eu dou uma olhada na Aghata depois que eu tomar banho.** , **ah, então é por isso que a senhorita está de calcinha?**, ambos riram e Flávia assentiu. Então Solano foi em direção a escada enquanto Flávia voltou para o quarto.


A morena adentrou seu aposento e dirigiu-se para o criado mudo, ela encarou Padius ainda adormecido e sorriu com ternura, ele era tão fofo a seus olhos, tão delicado, tão carente de proteção; adorável em última análise, mas claro, apenas por que Flávia insistia em ver no alienígena o garoto quem amava e não podia atualmente ser seu. Ela desejou que algo ruim acontecesse a Akemi por ter roubado seu "crush". Mas após suspirar ressentida a mulata apenas depositou a fadigada Atta no mesmo criado mudo e ignorou-a momentaneamente, pois precisava empurrar a cama de volta para a posição original e pegar algumas roupas para ir abluir-se. 


Foi um dia longo para Flávia, ela teve aulas de manhã, foi praticar capoeira a tarde e quando terminou ainda teve de cuidar do tabuleiro da mãe; tudo isso sob o sol do verão baiano. Sem falar de sua recente sessão de dança, o que levou sua pele negra a ficar brilhando carregada de gotículas de suor, em outras palavras a mulata precisava mesmo de um banho. Com isso em mente a garota pegou algumas roupas, sua toalha e escova de dentes e decidiu ir para o banheiro, mas não poderia ir antes de dar uma última verificada em seus cativos.


Atta estava jogada sobre o criado mudo totalmente desvalida, Padius estava a apenas alguns passos dela e mesmo assim era a menina incapaz de contatá-lo. O bornal dele estava perto mas já não tinha nada que pudesse ajudá-la ainda que a garota se atrevesse a rastejar até ele. Sua pele ainda úmida estava vermelha, carregada de hematomas e lesões espalhadas do rosto ao pé. Seu corpo jazia flácido e seus cabelos outrora num rabo de cavalo soltaram-se após a sucessão de intempéries turbulentas. Atta se sentia derrotada física e mentalmente. Ela não queria falar, sequer conseguia pensar. Ela só olhou para suas mãos ainda queimadas jogadas na faceta de madeira e tentou entender o porquê de tudo isso estar acontecendo. Ela lacrimejava mas a falta de energia privava-a da capacidade de chorar de verdade.


Como se não bastasse encontrar a pequenina num estado tão degradante, Flávia ainda decidiu amofiná-la mais um pouco. Após beijar o corpo adormecido de Padius a giganta encarou a menina e disse com o mesmo fel de antes através de um sorriso cruel, **cê é mesmo um viadinho... Não ficou nem um pouco duro mesmo depois de ficar tão íntimo do meu traseiro. **. a pequena, por sua vez, não disse nada, provavelmente em seu estado nem sequer conseguiu entender o que a giganta falava. O que foi um desprazer para Flávia, que então aborreceu-se e continuou, agora dotada de uma expressão mais séria e mau-humorada, **menininho idiota... Atta... Humf... Aposto que seu nome verdadeiro é algo óbvio, que nem Athos! Bem... ATHOS, eu vou tomar banho. Se quiser fugir fique a vontade. Só não esqueça que você vai morrer se sair lá fora nesse estado!**


Flávia então afastou-se, ela iria para o banheiro deixando os pequeninos sobre o criado mudo. Ela acreditou que não teria consequências negativas, afinal seu pai acabou de sair e sua mãe estava assistindo a novela das 9 e em seguida teria a das 10; logo não levaria menos de duas horas para que Vera resolvesse subir para seu próprio quarto, e se porventura quisesse entrar no quarto de Flávia, já teria ela terminado o banho e provavelmente até mesmo guardado seus escravos em algum lugar. Além do que, Atta provavelmente não se moveria depois da surra que levou das nádegas gigantes, e se o fizesse seria incapaz de descer até o chão em seu estado. Em outras palavras Não havia qualquer risco para os caprichos de Flávia.







Alguns minutos antes, enquanto Lonomia ainda esforçava-se para subir os consecutivos degraus enormes, seu empenho viu-se ameaçado. Ocorre que enquanto escalava o guincho preso aos balaústre de ferro a menina sentiu uma distante porém potente vibração ecoar vindo diretamente de cima. Ela não demorou a entender que um dos residentes do sobrado resolvera descer a escada, e que seus passos despreocupados eram os responsáveis pelas trepidações da estrutura de metal. Lonomia então diminuiu seu afinco e decidiu esperar a turbulência passar, mesmo porque queria saber a quem pertenciam os passos ecoantes que abalavam seu mundo ameaçando desfazer quaisquer progressos obtidos até então.


Por fim um par de pés imensos passou a ser visto descendo pela escada, a cada avanço os tremores vibravam mais e mais os pisos de metal. Lonomia olhou para o alto e percebeu se tratar do homem, aquele a quem Persgu solicitou que mantivesse distância. Ela realmente queria entender o porquê, entretanto não estava nos planos prejudicar seu escasso avanço e muito menos por-se a frente dos sapatos de qualquer gigante. Então a minúscula ruiva apenas segurou-se firme em seu cabo esperando que o colossal ser terminasse sua descida.


Apesar de tudo Lonomia não preveria que quando finalmente o pé de Solano tocasse o piso onde seu gancho estava engatado causaria tamanha vibração que levaria-o a soltar-se repentinamente. E com isso a minúscula soldado foi mandada para baixo antes mesmo de perceber a causa de sua queda. Ela mau pôde reagir, seu guincho estava desengatado e o cabo escorregou deformando-se bruscamente no meio do ar. A única coisa que Lonomia conseguiu fazer em meio a sua queda foi tentar sacar o paraquedas, em sua costa, mas o rifle reserva - para Atta - impediu que ela puxasse o cabo que o abriria, e se não bastasse, com a tentativa a menina acabou arrancando a arma e a derrubando em algum ponto da escada, enquanto ela própria continuava a cair.


Lonomia despencou no ar por alguns segundos até que finalmente sua perna colidiu com o piso de um degrau inferior e desviou sua queda levemente para o lado. Ela ainda estava em baixo da escada e caiu em cima de outra coisa que se encontrava muito abaixo da estrutura. Lonomia se viu deitada de costas sobre uma superfície macia, mesmo cheirosa, mas estranhamente restritiva. Ela se viu presa sobre as incontáveis madeixas negras de Vera, quem permanecia indiferente a minúscula presença em seu cabelo.


Vera continuava cuidando de suas unhas enquanto assistia a televisão, estando em casa ela já não mais usava o visual característico de baiana. Em vez disso seus cabelos estavam soltos, eles não eram tão longos quanto os da filha mas também eram bem crespos e volumosos, perfeitos para parar em segurança a queda de uma possível miniatura de gente que tivesse a sorte ou o azar de despencar em sua cabeça. Quanto a roupa, a mulher vestia uma saia quase até o joelho com estampa florida e uma camisa de mangas curtas xadrez cobrindo sua barriga. Ela estava descalça pois seus pés estavam na bacia de água, mas ao lado da bacia seus tamancos esperavam pelo momento em que seriam novamente utilizados. Os tamancos de madeira com alça de pano eram tão grandes e robustos que para Lonomia poderiam ser viaturas blindadas. 


Quanto a Lonomia, ela não demorou a perceber qual era seu novo paradeiro. Então pensou não tão aliviada quanto gostaria, ** pois é... Cedo ou tarde eu tinha que vir parar no corpo de um desses gigantes...** , logo ela levantou seu torso e percebeu que estava presa entre as grossas mechas de cabelo da giganta. Além disso agora que a adrenalina começava a diminuir em seu corpo, Lonomia sentiu a dor da colisão de sua perna contra o piso da escada que desviou sua queda. Ela tentou esfregar o joelho mas seu braço estava preso e não alcançou a perna. Com isso a garota bufou frustrada com a situação.


Foi só então que Lonomia percebeu a voz de Solano conversando com a esposa. Ela não estava particularmente interessada na vida do casal, mas presa na cabeça de Vera, em um ponto cego aos olhos do marido dela, foi incapaz a menina de evitar se familiarizar com o diálogo do casal. Começou com Vera questionando o homem, ** Mor, onde cê vai a essa hora vestido assim?**, Solano estava de colete e calça social, além de sapatos compatíveis. O homem tinha cabelos pretos e barba não muito espessa, usava óculos e tinha pouco mais de 1,80m. Ele disse em tom afável, **um dos meus alunos pediu para eu encontrá-lo, parece que ele conseguiu uma licença para um projeto e precisa da minha ajuda para começar a organizar**, **oxente, mas tem que começar hoje?**, indagou em resposta a esposa.


O homem acariciou a cabeça da esposa, roçando levemente Lonomia mas não por tempo o suficiente para senti-la, apenas para atordoa-la e jogá-la em outro canto da imensa cabeleira. Então em um sorriso gentil Solano falou para a esposa, **Amor, é importante... Senão ele teria esperado até amanhã.**, a mulher encarou o cônjuge com um olho aberto e outro fechado enquanto dizia deixando claro seu aborrecimento, **sei... E onde é que tu vai encontrar ele?**, encabulado o marido recua e enquanto sorri explica na defensiva, **bom... ele está me esperando no boteco do França...**,


Mesmo presa no emaranhado de cabelos da giganta Lonomia lembrou-se de ter visto esse nome antes, na verdade ela havia lido isso num letreiro imenso quando esteve no beco onde Aedes encontrou seu fim. Foi no momento em que ela encarava a fachada do bar, pouco antes da discussão com o finado companheiro. Ela lembrou-se ainda que o sargento tinha uma missão do coronel lá, cujos detalhes ela não sabia. Ela sabia que Persgu terminara a dita missão pois ficou um tempo esperando o sargento junto a Blastius, mas quando ele voltou apenas disse que a missão estava cumprida sem dar detalhes do que se tratava. talvez a menina tivesse batido a cabeça em sua queda, ou talvez o cheiro dos cabelos de Vera estivessem a deixando maluca, porém tudo parecia indicar que Persgu conhecia esse homem.


Solano, conseguiu convencer a esposa a deixá-lo ir, com a condição de que teria de comprar um maço de cigarros para a mulher. Vera voltou a trabalhar em suas unhas indiferente aos esforços de Lonomia para se livrar de seus cachos. Os cabelos eram tão volumosos e fortes que sua dona permaneceu insensível mesmo quando a minúscula criatura começou a escabujar desesperada para se livrar da armadilha. Gritando e se debatendo a menina afinal conseguiu desatar parte de seus membros, apenas para perceber que o volume do cabelo estava longe de ser um chão sólido.


Ela caiu, embrenhado-se por mais e mais cachos até que quase atravessou a cabeleireira de Vera em direção ao sofá, porém antes de uma queda real a garota segurou-se firmemente num tubo de cachos negros. Ela ficou pendurada, pendendo na cabeça de Vera enquanto podia analisar o ambiente. A mulher seguia sentada, movimentando seus monumentais braços para executar uma atividade que Lonomia era incapaz de ver. Abaixo a menininha via a almofada do sofá, deformada pelo incalculável peso da giganta que aliás era gordinha. Atrás a costa do sofá parecia uma muralha intransponível e a frente todo o horizonte da sala era uma planície escura com apenas a televisão emitindo luz.


Lonomia estava já bem cansada, ela perdeu seu progresso e seus companheiros pareciam mais distantes do que nunca. Se ela saltasse na almofada por certo sobreviveria, mas poderia quicar e cair no chão duro. Ou mesmo ser surpreendida por um movimento brusco das titânicas ancas da mãe de Flávia. Saltar em resumo era uma opção pouco promissora, mas Lonomia não gostaria de voltar a escalar a densa floresta negra da giganta. Ela estava usando os dois braços para se manter suspensa, logo seus músculos cederiam e voluntariamente ou não ela teria que descer da fortaleza viva.


Lonomia se preparava para pular, se era inevitável descer que fosse com cautela, com um alvo traçado e uma maior chance de aterrissar em segurança. Então a ruiva suspirou, olhou bem o ponto em que se jogaria ao deixar a segurança dos cabelos da mulher, e soltou as mãos. Soltou, porém não antes de Vera deslocar seu corpo e desviar a rota da pequenina. Ocorreu que a mulher se levantou, balançando seus cachos bruscamente e fazendo-a cair muito longe do ponto desejado. Em vez de cair no sofá e rolar para se estabilizar no solo, Lonomia despencou velozmente sem ver para onde ia e quando finalmente sua queda terminou ela foi envolvida por água em todos os lados. Ela caiu na bacia onde outrora os pés de Vera relaxavam. 


Vera levantou-se pois a novela entrou nos comerciais, possibilitando que ela fosse a cozinha beber café. Ela estava absolutamente alheia a pequenina, e nem viu que a derrubou na bacia de água. Como ela devolveria os pés para a bacia ao voltar, não se deu ao trabalho de calçar os tamanhos para locomover-se pela casa. Seus passos ecoantes logo desapareceram no outro cômodo, deixando a diminuta militar boiando afoita na tigela de plástico.

Lonomia felizmente sabia nadar, Atta não teria tido tanta sorte. Ainda assim ter caído bruscamente de tão alto e com sua perna inchada da última queda, fez com que ela tivesse dificuldades para emergir. Mas tão logo conseguiu ela gritou incontáveis palavrões, revoltada por estar retrocedendo cada vez mais em sua busca supostamente heróica. Ela estava mais uma vez molhada, pelo menos dessa vez não era por cerveja. Aliás a única vantagem de ter caído nessa bacia de água morna é que a camada de cerveja que secara em sua pele e roupas logo seria dissolvida e carrega para fora de seu corpo, removendo com isso o cheiro nauseabundo. 

Por outro lado Lonomia não imaginava como faria para sair dessa piscina, mesmo nadando até as bordas a bacia era muito grande e por ser lisa não seria possível escalá-la. Ela poderia tentar usar sua faca para agarrar a superfície de plástico, mas só com uma seria impossível efetivamente escalar. Então encharcada a ruiva resmungou mais um pouco. Seu equipamento estava molhado, o que significa que teria problemas se precisasse valer-se dele, e tudo parecia indicar que precisaria. 

Não demorou para que ecos distantes logo criassem trepidações na superfície da água onde Lonomia estava boiando, ela sabia que era vera se aproximando, não sabia todavia como reagir. Em sua posição a menina estaria a mercê da giganta caso essa a encontrasse. Ela imergiu, a água era clara mas no mínimo a garotinha queria esconder o rosto, pois se do alto de seus aparentes 41 metros a baiana visse seu corpinho, seria menos problemático se o tomasse por um inseto do que se percebesse tratar-se de uma pessoa em miniatura. No mínimo Lonomia foi levada por seus superiores a acreditar nisso.

Os passos sísmicos de Vera logo ressoaram tão alto que Lonomia nem precisou olhar para cima para perceber que a mulher estava logo a frente da bacia, e em um segundo ela pousou um dos pés suavemente no líquido do recipiente. Isso é, suavemente para ela, pois apenas um de seus pezinhos gordos foi o suficiente para chacoalhar todo o ambiente e jogar a menina violentamente para os cantos da bacia enquanto tentava não se afogar. Processo que repetiu-se inevitavelmente quando o outro pé negro precipitou-se na água ignorando qualquer convidado. Aliás, por muito pouco a sola esbranquiçada da baiana não acabou pousando bem em cima da pobre garota, quem conseguiu nadar afobada para longe da plataforma antes que a giganta voltasse a relaxar em sua posição original.

Finalmente as águas pareceram ter se acalmado, Lonomia estava num canto do recipiente, atrás do pé esquerdo da mulher. Ela olhou para o imenso calcanhar dela, seu tornozelo robusto, seus artelhos pesados. Era assombroso pensar que por pouco ela, uma guerreira astuta e habilidosa, não acabou achatada contra o simples pé de uma civil, que aliás gorda e com quase 40  anos seria facilmente derrotada caso tivessem a mesma proporção. Esse pensamento, a ideia de ser inferior a alguém que ela venceria em outras circunstâncias, era extremamente humilhante para a adolescente que passou os últimos 5 anos treinando dedicadamente para ser a melhor soldado possível. Assim como Atta Lonomia também treinou com Gairu quando este era capitão, e se sua amiga tinha a melhor mira ela era a melhor em combate físico. Era inadmissível morrer ali, numa tigela de água aos pés de uma mulher qualquer.

Com isso em mente, a pequenina suspirou e decidiu usar a única rota de fuga para fora da bacia, os pés de Vera. Ela naturalmente não gostaria de ter de recorrer a isso, mesmo porque Lonomia preferia evitar usar o corpo de uma giganta como espaço geográfico; porém não haveria solução, já que as paredes da bacia eram intransponíveis para ela. Com isso em mente a menina nadou até o pé da mulher adulta, o qual já tinha uma parte considerável imersa, o que facilitou para Lonomia que não precisou interagir com seus dedos. Ela nadou até o dorso do pé de Vera e o usou como plataforma assim que atingiu a área fora do líquido. 

Em seguida Lonomia andou suavemente até o tornozelo da giganta e meio hesitante decidiu abraça-lo, para escalar. Ela queria evitar que a dona deste pé notasse sua presença, então decidiu não agarrar a pele dela entre seus minúsculos dedos. Em vez disso subiria como se fosse em uma árvore, uma árvore grossa, quente e infelizmente sensível a cada uma das saliências microscópicas roçando em sua pele. 

Lonomia mau pôde chegar na canela de Vera sem que ela notasse algo molhado rastejando em sua perna, o que rapidamente chamou sua atenção, fazendo-a erguer a o membro inferior abalando o corpo da minúscula alpinista. Lonomia segurou-se mais firme, mas quando a mulher a viu em sua canela ela gritou terrivelmente apavorada. Chacoalhando a perna violentamente contra o ar na tentativa de arremessar para longe a estranha criatura que se atreveu a escalar seu corpo.

**Odeio, isso!** Gritou ela ainda atônita, **por que insetos tem que ficar encostando na gente?**, ela então procurou no chão a minúscula criatura, mas encontrou a menininha jogada em cima da mesa de centro. Um novo grito foi audível quando Vera deu um tapa em direção a Lonomia, que mau conseguiu rolar para o lado. O golpe com tanta violência quase arrancou uma porção de seu corpo. Lonomia estava ainda abalada com a queda, mas precisava recuperar sua compostura ou seria esmagada como um inseto por essa mulher medrosa. 

A menina então pegou em seu fuzil de assalto, até então desconsiderado mas sempre presente em sua bandoleira, e mirou na giganta assustada que se preparava para dar outro tapa. Porém a rajada de chumbo nunca saiu, o fuzil estava tão molhado que foi incapaz de disparar senão um único projétil sem energia para percorrer o ar. Então a mão imensa de Vera não foi parada e logo acabou esparramada sobre a mesa.

Mas era cedo para Lonomia desistir, quando seu fuzil mostrou-se inoperante a menina logo percebeu que a giganta não desviaria seu golpe, então ela rolou no último segundo e quando a mão de Vera espalmou-se na mesinha de madeira, a pequenina ousou subir nela e correr desajeitadamente por seu antebraço, apenas para cair quando a ponte arredondada ficou instável demais para se caminhar. Ela caiu em direção ao torso da mulher, então se agarrou a camisa dela e para o desespero de Vera continuou lá. Lonomia estava desorientada e tudo que queria no momento era chegar ao chão em segurança, o que não foi possível pois ao ver esse inseto esquisito em sua roupa, a adulta agiu feito criança e começou a debater-se no meio da sala de um lado para o outro chegando ao cúmulo de arrancar sua camisa e arremessá-la para cima. Por sorte ou azar, Lonomia foi junto com ela e voltou para a escada, de onde nunca desejou ter saído. 

Vera olhou para o chão procurando o inseto, sem percebê-lo em lugar algum ela tratou de vestir seus tamancos e disse, mesmo sem saber que o "inseto" que procurava era racional, **Aparece agora, desgramado! Aparece pra ver o que eu faço com você!**, ela então pisou forte no chão com seu tamanco deixando claro suas intenções. No meio do agito Vera havia derrubado a bacia de água no chão e isso a enfureceu, pois agora sua pedicure acabaria sendo atrasada ou mesmo adiada. Ela então olhou para a escada, em direção a sua blusa.

Quando Lonomia caiu na escada, ela continuava profundamente desorientada. O tecido da blusa aliviou sua queda, mas ela estava esgotada com todo o esforço desempenhado, sem falar que quase morreu, duas, três, ou teriam sido quatro vezes? Ela já nem sabia, só sabia que estava terrivelmente irritada com a situação, podia até mesmo dizer que estava "puta com isso", e como se o destino quisesse lhe testar, Lonomia caiu coincidentemente no degrau onde outrora derrubara o rifle de reserva que pretendia dar a Atta. Essa arma não caiu com ela na bacia de água, logo estava perfeitamente funcional, ainda que fosse mais lenta que seu fuzil de assalto.

Aliás, Lonomia só não perdeu seu bornal e bandoleira durante as muitas quedas que tivera hoje porque a mochila do paraquedas ajudava a manter as alças nos lugares. Do contrário ela estaria ainda menos provida de seus equipamentos táticos. Em todo caso Lonomia ainda não sabia como superar a escada, afinal seu guincho estava muito acima , em um dos pisos superiores, ela poderia tentar escalar cada balaústre individualmente, seria mais demorado mas ela ainda era o único resgate de Atta e Padius. Então Lonomia pegou o rifle, prendeu ele na mochila do paraquedas e começou a rastejar por um balaústre de ferro. Ela iria simplesmente ignorar a mulher que quase acabou de matá-la ironicamente por ter "medo" dela. Isso era ridículo, mas Lonomia não podia perder mais tempo com Vera.

Todavia o destino, como dito era cruel, e quando Lonomia estava subindo o balaústre ela ouviu a mulher provocando-a. Ela ouviu Vera dizendo, **aparece pra ver o que eu faço com você**, e isso incorporou o ódio que a pequenina já sentia por tudo que passou até agora, fazendo-a decidir agir de forma absolutamente irracional. Lonomia mau atingiu o piso do degrau de cima e acabou virando-se em direção a titânica forma escura da mulher, coincidentemente no exato momento em que a mesma olhou para a blusa na escada. Era o momento perfeito para a vingança da pequenina. 

Por seu volume reduzido Lonomia demoraria a ser percebida pela giganta, quem olhava para a blusa e mau notou uma figura pequena e verde no degrau logo a cima. Foi nesse instante que uma faísca piscou na escada e um segundo depois Vera sentiu seu olho ser picado por um inseto invisível. A mulher então deu o maior dos brados até agora. Gritando e desferindo palavrões gratuitamente enquanto calcava ferozmente o piso da sala com seus tamancos de madeira. Essa manifestação de raiva foi o suficiente para Lonomia se julgar satisfeita por tudo que passou para essa mulher. A pequenina só não esperava que o agito violento da mulher atraísse outro colossal.

Novamente as escadas tremiam, Lonomia fez uma careta magoada pois da última vez que isso aconteceu ela foi arremessada para baixo, dessa vez tinha que ser diferente, então mesmo correndo o risco de ser esbaratada a menina esperou no piso da escada por qualquer que fosse o titã que descia abalando seu mundo.  Para a sorte da menina quem vinha era a menor dos gigantes da casa, Aghata, que desceu correndo a escada para acudir a mãe. 

Os passos descuidados mas extremamente letais da criança de 4 anos ecoaram por cada degrau enquanto ameaçava suplantar a jovem militar a qualquer momento. Mas Lonomia estava decidida a não esperar nos cantos, até porque se ela caísse desse ponto da escada não teria nada lá embaixo dessa vez para aliviar sua queda. Por sorte não demorou para que o relativamente pequeno pé da criança pousasse no piso onde ela esperava, e apesar do impacto abalar a compostura da pequenina ela pôde manter-se firme na plataforma. Permitindo-se abaixar-se para um breve descanso após a montanha viva terminar sua passagem.

**Mãe! Mãe! Que foi...?** , indagou a criancinha desesperada ao ver a mãe cobrir o olho de forma análoga ao que ela mesmo fizera mais cedo. Vera olhou para filha com o olho intacto, olhou o tapa olho da criança e lamentou muito. Agora ela sabia que inseto era o culpado pela picada, só não entendia porque esse bichinho esquisito atacava os olhos em vez da pele, como normalmente fariam aranhas ou marimbondos. 

**Chama sua irmã**, ordenou Vera em prantos, **maeh mãe...** Bulbuciou a criança em seu dialeto infantil, **eia tá toman banho...**, **chama logo!**, gritou a progenitora, descontrolada pela dor e a frustração. A menina ficou meio assustada, mas resolveu voltar para a escada, rumo ao banheiro onde Flávia abluia-se ainda.

Lonomia ouviu a conversa entre mãe e filha, então logo raciocinou e percebeu que tinha em mãos uma excelente oportunidade. Assim que Flávia descesse todos os gigantes estariam no andar de baixo, permitindo que ela procurasse Atta com tranquilidade. Então ela precisava aproveitar essa chance, o que fez com que a mocinha decidisse pegar carona na colossal criança assim que ela voltou a subir a escada. Lonomia esperou no piso até ver os cabelos da menina surgirem no horizonte de metal como um sol nascendo, então ela correu e saltou na cabeça da criança, agarrado-se aos cabelos dela como um grilo. A menina estava tão ocupada em sua diligência que não notou o "bichinho" em sua cabeça.

Finalmente Lonomia viu a escada se tornar uma mera lembrança, em algumas dezenas de passos mesmo uma criança pequena como Ághata superou o trajeto que ela passou  o que já pareciam horas tentando transpor. Lonomia viu a escada terminar e um novo mundo se abrir. Um corredor iluminado com vasos de plantas separavam três portas, duas contrapostas e uma no meio, a do banheiro. A criança foi bater na porta para chamar sua irmã.

Assim a pequena soldado tratou de se movimentar, os cabelos de Aghata eram grossos e fortes, mas para a graça da pequenina eles estavam puxados para os lados e presos no penteado "maria-chiquinha". Isso permitiu que a minúscula garota descesse confortavelmente por trás da cabeça da irmã de Flávia, ela pôde se mover pela costa dela e estava já agarrada em sua calça quando finalmente a porta do banheiro se abriu.

**Que foi, nenê?**, perguntou Flávia amavelmente, Aghata explicou que a mãe teve o olho picado por um inseto e precisava de ajuda. Ao ouvir isso a mulata arregalou os olhos e olhou perplexa para seu quarto. A porta estava fechada, ela olhou para sua irmã. Lonomia estava em um ponto cego, pendurada no bolso de trás da criança. Flávia perguntou, **mas como? Você viu o bichinho?**. A criança negou, Flávia suspeitava que provavelmente se tratava de algum pequenino e não de um legítimo inseto, mas não queria considerar a possibilidade de Atta ou Padius terem chegado até o andar de baixo. Ao passo que nunca passou por sua cabeça que poderiam haver outros pequeninos em sua casa. 

Sorrindo Flávia saiu do banheiro de toalha e foi até seu quarto, ela queria conferir se um de seus prisioneiros havia escapado e ousado machucar sua família novamente. Ágatha por sua vez não entendeu e insistiu em apressá-la, afinal sua mãe não tinha tempo a perder. A mulata abriu a porta do quarto enquanto sua irmã esperava no corredor, a essa altura a pequenina já havia alcançado o chão e logo se escondeu atrás de um vaso. Lonomia assistiu a pequena giganta apressar sua irmã, e insistiu tanto a criança que Flávia mau entrou no quarto e já saiu.

Flávia esteve em seu quarto por meros segundos, o suficiente para ver os dois cativos jazendo inertes no lugar em que foram deixados. Ela saiu do quarto apressada por sua irmã, e enquanto fechava novamente a porta do aposento ela olhava para o rosto aflito de Aghata, e por conta disso desconsiderou o minúsculo vulto verde passando ligeiramente no chão rumo a fenda que logo se fechou. Ao fechar a porta Flávia foi acudir a mãe, ela pensou em passar no banheiro no mínimo para pegar sua calcinha ou camisola, mas Ágatha insistiu que ela já enrolou demais.

Com isso finalmente a desventurada Lonomia se viu no quarto de Flávia, agora ela mesma presa, pois que a porta foi fechada. Lonomia vagou pelo enorme assoalho de madeira, sem saber onde estariam seus amigos. Ela não podia ver a faceta dos móveis ou a superfície da cama então restava apelar para a forma mais primitiva de achar alguém. **Atta! Atta!** , Ela gritou, **Padius! Atta! Tem alguém aqui?**

Lonomia abaixou a cabeça, ela não gostaria de ser vista assim, não queria admitir mas estava com medo do futuro. Se demorasse muito logo a moça gigante voltaria, e se ela fosse vista não apenas falharia em seu resgate, como também poderia acabar sendo capturada. Era uma questão de tempo, mas Lonomia sabia que os dois deveriam estar aqui, já que Flávia não poderia está-los carregando. Mesmo se demorasse ela iria procurar.

Foi nesse instante que a Providência sorriu para ela, eis que Atta havia ouvido seu chamado, e embora a menina loira estivesse ainda fraca por conta de todo o assédio sofrido anteriormente, ela reuniu forças e tacou o bornal de Padius no chão. Lonomia viu a bolsa caindo do imenso criado mudo e deduziu que algum de seus companheiros estaria lá. E assim como outrora Atta o fizera, a jovem soldado escalou o móvel. Sua determinação uma vez mais se ascendeu, seu afinco se revigorou e em poucos minutos a adolescente atingiu a faceta de madeira. 


Lonomia não era uma pessoa muito boa em expressar sentimentos, mas não pôde deixar de sentir-se abalada quando ao atingir o topo do criado mudo encontrou o corpo de Atta num estado lamentável. A menina estava despida, inchada e profundamente derrotada. Padius dormia mais ao longe, sobre um livro. Comparado a Atta ele parecia inviolado, o que deixou a ruiva desconfortável. Parecia que sua amiga foi a única vítima da giganta. Em todo caso ela precisava de ajuda, era hora de tirar a menina de lá e retornarem para o acampamento.


Continua...


Chapter End Notes:
Obrigada por terem lido!  O que será que Persgu está escondendo? Como será que Flávia vai reagir quando voltar para seu quarto? Logo descobriremos!😉
You must login (register) to review.